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Lições de uma fuga impossível – PARTE I. por Nelson Galvão

setembro 14, 2017 Mulher da Palavra 0 Comments



Já ouviu falar de Eddie Maher?  Em janeiro de 1993, Eddie Maher, motorista da empresa britânica de transporte de valores Securicor, fugiu do Lloyds Bank, em Felixstowe, dirigindo um carro-forte com 1,2 milhão de libras (cerca de R$ 5 milhões ). Ficou foragido com esposa e filhos nos EUA por 19 anos. Até que uma mulher entrou em uma delegacia em Ozark, no Estado americano de Missouri, e denunciou que seu sogro era um fugitivo da polícia. Era o fim da linha para o britânico Eddie Maher.[1]
O livro de Jonas também menciona um fugitivo. O livro de Jonas foi escrito com o propósito de mostrar que a misericórdia de Deus se estende a todos os homens e Ele entrega a Seus servos a tarefa de comunicá-la. Entretanto, nem sempre estamos dispostos a cumprir esse chamado e aí fugimos.
Assim, iniciaremos a série intitulada:  Lições de uma fuga impossível. O propósito é tratar sobre a revelação do coração de Deus, conforme exposto no livro de Jonas e aplica-lo ao nosso contexto.
Jonas viveu no tempo de Jeroboão II, rei de Israel do Norte (2 Rs 14:25). Possivelmente era discípulo de Elias e pertencia à escola de profetas fundada por este. Nesse tempo (Séc VIII a.C), o reino de Israel do Norte estava retomando as terras ao norte outrora conquistadas pelos sírios e vivia sob ameaças dos Assírios. Foi nesse momento que Jonas ouviu a Palavra do Senhor para que fosse à capital dos Assírios, Nínive, profetizar contra ela. 
A primeira lição extraída de Jonas é a respeito de quem Deus é. Sim, pode parecer surpreendente para alguns, mas a Bíblia é um livro sobre Deus. Não! Não é sobre Abraão, Sansão, Davi ou quem quer que seja. Todos os personagens das Escrituras são coadjuvantes que compõem uma narrativa que está liga à metanarrativa cujo ponteiro aponta para quem é Deus. Assim, o livro de Jonas não é sobre Jonas, ou os ninivitas, ou a “baleia” (para a decepção de alguns professores de escola bíblica!!!!), mas um livro que, de forma magnífica, revela quem é Deus. Não é à toa que o livro começa com Deus falando e termina com Deus falando.
E o que o livro de Jonas nos revela a respeito de Deus? Existem dois aspectos de Deus sendo ressaltados nesse livro. Vou começar pelo primeiro e depois, no final da série, volto para o segundo, uma vez que o capítulo 4 termina com ele.
O primeiro aspecto é a soberania. Deus é soberano! Vejamos:
(1)  Deus da ordem a Jonas (1.1,2). Essa ordem seria juízo para com a nação mais poderosa da época;
(2)  Deus controla o vento e o mar (1.4);
(3)  Deus controla o grande peixe (1.17; 2.10);
(4)  Na segunda vez que Jonas é chamado, a mensagem permanece a mesma e a expressão é: “proclama a mensagem que eu te ordeno” (3.1,2);
(5)  Deus deixa de executar juízo porque teve misericórdia (3.10);
(6)  Deus controla a planta, o verme e o vento oriental (4.6,7,8).

Sim, Deus é soberano! Ele governa soberanamente sobre a Sua criação. Infelizmente, não é esse o entendimento de muitos evangélicos no Brasil. Estes concebem um Deus limitado pela vontade humana. Essa concepção tem sido impulsionada por teologias como o Teísmo Aberto, tal como propagada por teólogos como Gregory Boyd e Rob Bell. Este último (também universalista) escreveu o seguinte:
Embora Deus seja forte e poderoso, quando se trata do coração humano Ele precisa usar as mesmas regras que nós. Deus tem que respeitar a nossa liberdade de escolha até o fim, mesmo que coloquemos em risco o nosso relacionamento. Se em algum momento desse processo Deus ignorar, desprezar ou sequestrar o coração humano, roubando a nossa liberdade de escolha, então terá violado a essência mais fundamental do amor.[2] (grifo meu).
Veja os termos usados por Rob Bell para referir-se a Deus: “Ele precisa”, “Deus tem que”. Esse não é o Deus das Escrituras! Eu pergunto: onde estava a liberdade de escolha de Jonas? Segundo o pensamento de Rob Bell, Deus deveria respeitar a vontade de Jonas e não provocar um tempestade para o barco, enviar o grande peixe, ou destruir a planta com o verme. Afinal, Deus “precisa usar as mesmas regras que nós”! É esse tipo de pensamento que tem gerado músicas como a de Thales Roberto: “Filho Meu”. Veja a letra da música:
Filho meu
Ta fugindo de mim, é?
Ja tentei, procurei e outra vez
Você me rejeitou, porta na cara doeu…
Filho meu
Ta correndo de mim, é?
Ontem eu me lembrei
De uma antiga oração
Que você fez no monte
Lembra filho? Eu chorei!
“Eu acho que paguei
Um preço alto demais
Eu tenho tantas coisas
Pra viver com você
Promessas e promessas
Arquivadas te esperando, filho!

Ao ler essa música temos pena de Jesus! É o Jesus de Rob Bell, aquele que “respeita a nossa liberdade de escolha”, a despeito de Sua própria liberdade de escolha. Incrível, para essa teologia todos podem ter liberdade de escolher, menos o Criador! A W. Pink faz um comentário muito acurado sobre isso:

O Deus do séc. XX é um ser enfraquecido e incapaz, que não infunde respeito a qualquer pessoa que realmente pensa. O Deus que as pessoas concebem em suas mentes é a invenção de um sentimentalismo banal. O Deus de muitos púlpitos dos nossos dias é objeto que inspira mais pena do que reverente temor [...] A soberania do Deus das Escrituras é absoluta, irresistível, infinita. Quando dizemos que Deus é soberano, asseveramos o seu direito de governar o universo, criado para a sua glória, exatamente como lhe aprouver. Afirmamos que o direito de Deus é semelhante ao direito do oleiro sobre o barro, ou seja, moldá-lo em qualquer forma que deseje, produzindo, da mesma massa, um vaso para honra e outro para desonra. Afirmamos que Deus não está sujeito a nenhuma regra ou lei fora de sua própria vontade e natureza e que ele é a sua própria lei, não tendo qualquer obrigação de prestar contas dos seus atos a quem quer que seja.[3]

É por isso que a reação de Jonas se torna tão pitoresca. Como fugir desse Deus? Para onde fugir daquele que criou o próprio conceito de espaço-tempo? O salmista entende bem isso e diz:

Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?
Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também;
se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares,
ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá.
Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite,
até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa.
Pois tu formaste o meu interior tu me teceste no seio de minha mãe.
Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem;
os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda. (Sl 139.7-16).

Esse não me parece um Deus autolimitado pela vontade humana! A questão é que o pecado nos cega e nos faz achar que é possível. Adão e Eva fugiram da presença do Senhor, escondendo-se entre arbustos (Gn 3.8), como se uma planta fosse eficiente para a ocultação de seu pecado! Da mesma forma Jonas fugiu em direção a Tarsis, esquecendo-se do Deus do Sl 139.
Assim também somos nós. Fugimos do Deus que é soberano! Empreendemos então uma fuga impossível. Fugimos de Sua voz, de Sua vontade, de Sua Palavra. Usamos arbustos, navios, trabalho, ideologias, religião, nos fazemos de vítima e culpamos o outro, enfim, tudo o que está ao alcance para nos ocultar dEle.
São aquelas pessoas que fogem da vontade revelada de Deus nas Escrituras, quando esta é contrária à sua própria. São aqueles homens que fogem da responsabilidade de amar sua esposa e liderar sua casa, aquelas mulheres que fogem da responsabilidade de educar seus filhos, pastores que fogem de se posicionar biblicamente diante da igreja concernente a assuntos tido “polêmicos”.
Entretanto, o Deus revelado em Jonas nos encontrará onde quer que estejamos e aí estaremos diante do Criador. E aí, o que diremos?

E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas. (Hb 4.13)

Nelson Galvão
Sola Scriptura



[1] https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2017/05/26/fugi-da-policia-por-19-anos-com-minha-familia-depois-de-roubar-r-5-milhoes.htm
[2] BELL, Rob. O amor vence. Ed. Sextante. p. 93
[3] PINK. A. W. Deus é soberano. Ed. Fiel. P. 22,23.




Nelson é casado com Simone desde 1997 e eles têm um filho. Ele é formado em História e Teologia, pós-graduado em Administração Escolar e mestre em Educação (PUC-SP). Atualmente faz mestrado em Teologia do Novo Testamento no Seminário Bíblico Palavra da Vida- Atibaia, SP. 
É pastor interino da Igreja Batista Sião (São José dos Campos-SP) e atua como diretor acadêmico do ministério Pregue a Palavra. 
Atua ainda como coordenador do grupo do Pregue a Palavra de Cuba e como professor convidado da Escola de Pastores PIBA.

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