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A necessidade de reconhecimento. por Bianca Bonassi Ribeiro

dezembro 05, 2017 Mulher da Palavra 0 Comments


A ideia principal desse texto é promover um momento de meditação sobre a necessidade de reconhecimento que há em nós. Talvez, num primeiro momento não admitamos que essa seja uma necessidade, porém no íntimo de nosso ser, sabemos o quanto ser reconhecido é bom. A definição de necessidade está atrelada a algo que é essencial, ou seja, algo que não pode ser deixado de lado ou ignorado. Portanto, trata-se de uma característica do ser humano que foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26).
Por outro lado, com a Queda[1] da humanidade essa necessidade foi desvirtuada e tem induzido muitas pessoas ao pecado. Assim, é importante que saibamos lidar de forma santa e coerente com essa necessidade.
Importante ressaltar que a necessidade de reconhecimento não está vinculada à autoestima, essa relação foi estabelecida como uma das consequências da Queda e faz com que esteja centrada no eu, logo se tornou egoísta e autocêntrica. A necessidade de reconhecimento deve ser focada no outro. Trata-se do reconhecimento feito por alguém, ou seja, uma manifestação pública, de um feito nobre ou de uma virtude de outra pessoa.
O próprio Deus deve ser reconhecido e não é porque Ele tem problema de autoestima, mas porque o reconhecimento é uma manifestação pública feita por nós, seres criados, de quem Ele é (todas as suas virtudes) e de todas as suas obras (todos os seus feitos nobres). Assim, há uma relação focada no outro, porque outras pessoas serão impactadas por esse reconhecimento. Vejamos o que Deus diz por meio dos profetas Moisés e Isaías e pelo rei Salomão: “Reconheçam isso hoje, e ponham no coração que o Senhor é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Não há nenhum outro. Não profanem o meu santo nome.[...] Vocês que estão longe, atentem para o que eu fiz! Vocês que estão perto, reconheçam o meu poder! [...] Reconheça o Senhor em todos os seus caminhos e ele endireitará as suas veredas” (Dt 4.39; Is 33.13 e Pv 3.6 - grifo meu).
Os trechos bíblicos citados são uma pequena amostra da necessidade que temos em reconhecer a grandeza e o poder de Deus, isso porque testifica a outros sobre quem Ele é, o que fez, faz e fará.
Mas, e a nossa necessidade de reconhecimento? Como ela deve funcionar de maneira santa?
A resposta a essa pergunta ocorre em duas etapas. Primeiro, precisamos reconhecer que Jesus é o Filho de Deus e que o sacrifício D’Ele na cruz foi suficiente para nos salvar, logo não vivemos mais para nós mesmos, porque Ele permanece em nós e nós N’Ele (cfme. 1 Jo 4.9-17). Segundo, uma vez que Cristo vive em nós, a nossa busca constante deve ser focada em fazer bom uso do que somos e do que temos, para que sejamos reconhecidos, por Deus. Esse tipo de motivação conduz a uma vida que busca a vontade de Deus e nos transforma em bons administradores do que Ele nos dá. Sendo assim, nossos talentos, dons e recursos materiais glorificam a Deus.
Em outras palavras, a nossa necessidade de reconhecimento é satisfeita quando nosso foco está em Deus e não em homens. O próprio Jesus Cristo, nos ensina a lidar de maneira santa com essa questão, quando apresenta a parábola[2] dos talentos descrita no evangelho de Mateus capítulo 25. 14-30. De forma resumida temos:
Reconhecimento: “O senhor (homem que havia saído de viagem) respondeu: Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco, eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu Senhor! (Mt 25. 21 e 23) 

 Na parábola, o talento se refere a unidade de valor monetário, mas podemos considerar o termo atual de talento, definido pelo dicionário online de português, como  aptidão natural ou adquirida, ou seja, uma capacidade para desempenhar e executar algo.
Quando multiplicamos um talento dado por Deus, a partir de nossas ações diárias, certamente teremos o reconhecimento de Deus e o enfoque será mostrar aos outros o que Ele fez e faz através de nós. Interessante notar que o reconhecimento pode ocorrer no presente ou no futuro.
Um exemplo claro disso foi o episódio descrito em Atos 4.1-20, quando Pedro e João, discípulos de Jesus foram chamados diante de autoridades da época para prestar contas de um ato de bondade em favor de um doente. Notem o que foi dito sobre eles: “Vendo a coragem de Pedro e de João e percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus [...] Depois de mais ameaças, eles os deixaram ir. Não tinham como castigá-los, porque todo povo estava louvando a Deus pelo que acontecera, pois o homem que fora curado milagrosamente tinha mais de quarenta anos de idade ” (At 4.13, 21-22 – grifo meu). Muitas vezes Deus usa pessoas para proporcionar o reconhecimento a quem tem multiplicado seus dons e talentos no intuito de fazer Deus reconhecido na terra.
A ideia central é viver uma vida terrena a partir de uma perspectiva celestial, para que a nossa jornada aqui na terra, se manifeste praticamente com o mesmo foco do apóstolo Paulo: “combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (II Tm 4.7-8). Paulo sabia que o reconhecimento viria de Deus, em tempo oportuno e não seria no plano terreno e sim no celestial, assim como ele esperou para ser reconhecido, nós também, muitas vezes teremos que esperar e continuar multiplicando os talentos dados por Deus sem desanimarmos.
Para finalizar, vale ressaltar alguns pontos de observação:
a)                           Quando a nossa necessidade de reconhecimento está distorcida, o foco das nossas ações são bajulação e ganância, ou seja, comportamento autocêntrico (centrado no eu). Portanto, se fazemos algo esperando receber elogios, congratulações e outras recompensas vindas de outras pessoas ou até mesmo de Deus como barganha, esse é o indicativo de que a nossa necessidade de reconhecimento está distorcida pelo pecado.  A nossa motivação deve ser a mesma do apóstolo Paulo: “Vocês bem sabem que a nossa palavra nunca foi de bajulação nem de pretexto para ganância; Deus é testemunha. Nem buscamos reconhecimento humano, quer de vocês quer de outros” (I Ts 2.5-6) e “Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus (Fp 2.3-5);
b)                          Aproveite a oportunidade de reconhecer o bom uso dos talentos de outra pessoa, seja por elogios ou por qualquer outro tipo de recompensa,  faça-o! Essa é uma forma de Louvar e Reconhecer Deus e a forma que Ele usa pessoas para executar suas obras e manifestar a Sua glória diante dos homens. Por exemplo, Jesus reconheceu publicamente a fé de uma mulher que creu que se tocasse no manto D’Ele seria curada (Mt 9.22), Ele também reconheceu publicamente quando uma mulher o ungiu com perfume muito caro (ato de bondade), descrito em Mateus 26.6-13; Jesus reconheceu a fé de um centurião (Mt 8.5-13 e Lc 7.1-10). Outros exemplos, Paulo reconheceu o amor dos que estavam em Éfeso (Ef. 1.15-16), a cooperação dos Filipenses e em especial Evódia, Síntique e Clemente (Fp 1.3-6 e 4.2-3) e tantos outros que foram reconhecidos.
c)                           Ao recebermos um reconhecimento, seja ele qual for, louvemos a Deus  pela graça de ter sido instrumento D’Ele. Mas, com o cuidado de não darmos vazão ao orgulho e a vaidade.

Bianca Bonassi Ribeiro





[1] Queda – termo bíblico que se refere ao evento caracterizado como pecado original, cometido por Adão e Eva, que impactou toda a humanidade, bem como toda a criação, conforme relatado em Gênesis 3.
[2] Parábola: história simples e sucinta, destinada a comunicar uma verdade espiritual, princípios religiosos ou uma lição moral; figura de linguagem na qual ilustra-se determinada verdade comparando-a com experiências cotidianas (YOUNGBLOOD, R.F.; BRUCE, F.F.; HARRISON R.K. Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo, Vida Nova, 2004, p.1076)



Bianca é casada com Luciano. Eles têm dois filhos, o Pedro e o Vitor. Ela faz parte da equipe docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, desde 2007 e é membro da Primeira Igreja Batista de Atibaia.
Bianca é doutora em Comunicação e Semiótica, mestre em Administração e graduada em Administração de Empresas.

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