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Recado aos sonhadores. por Bianca Bonassi Ribeiro
O objetivo
desse texto é encorajar sonhadores, além de promover e despertar novos sonhos.
Entretanto, esse artigo, também tem o foco de provocar uma auto-avaliação de
cada sonho, no intuito de saber se ele está dentro da vontade de Deus.
Em primeiro
lugar, é necessário definir a palavra sonho
dentro do contexto em que esse artigo se propõe apresentar. Portanto, para
simplificar esse processo vamos ao dicionário Michaelis[1]:
Sonho: palavra oriunda do latim somnium,
que possui vários significados. Dentre eles, conjunto de pensamentos, imagens,
ideias e fantasias que se experimenta enquanto dorme. No entanto, o mesmo
dicionário apresenta o sentido figurado
da palavra, que é um desejo vivo,
intenso, veemente e constante. Um ideal ou ideia dominante que se persegue com
interesse e paixão.
Sendo
assim, para esse artigo o sentido
figurado de sonho é o que será usado. O que popularmente chamamos de sonho,
nada mais é do que um forte desejo. Sendo assim, a Palavra de Deus tem muito a
nos ensinar sobre esse tema.
Um segundo
ponto importante, trata-se de saber distinguir duas diferenças do termo desejo,
porque isso facilitará a compreensão do enfoque desse estudo. Por exemplo,
quando dizemos que estamos com desejo de tomar sorvete não se trata de um
sonho, mas de uma vontade imediata. Por outro lado, quando desejamos fazer um
curso de graduação, por exemplo, esse anseio pode ser considerado um desejo do
tipo sonho, pois demanda esforço, ação continuada, planejamento, finalização de
etapas, além de recursos intelectuais, físicos e monetários. Por isso, muitas
pessoas desistem ou nem tentam realizar sonhos.
Os meus
pais tinham o sonho de ver os quatro filhos deles formados na faculdade. Isso
era muito importante para eles e desde muito pequena me lembro do quanto eles
valorizavam os estudos. Boa parte de nossa vida escolar (minha e de meus
irmãos) foi em colégio público, mas assim que a situação financeira melhorou,
meus pais nos colocaram em escola particular. O esforço deles em nos fazer
querer estudar foi tão grande, que os quatro filhos não só finalizaram a
graduação, mas continuaram a estudar depois de terminarem o bacharelado. Isso
porque nós, os filhos, passamos a ter nossos próprios sonhos quanto aos
estudos. Me lembro de fazer três vezes a prova para o mestrado na Universidade
Presbiteriana Mackenzie, até que na terceira tentativa fui aprovada. Até hoje ainda
tenho sonhos com relação aos estudos!
Na vida de
um cristão, Deus o convida, o estimula a sonhar, mas sempre dentro da vontade
D’Ele. “Pois é Deus que efetua em vocês
tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Fp 2.13).
Isso nos leva a entender que não é todo e qualquer sonho que automaticamente
está dentro da vontade do Pai. Por isso a necessidade de analisar nossos sonhos
à luz da Palavra de Deus. Também é imprescindível ter em mente que o Realizador
de Sonhos é Deus e não nossos próprios esforços. Por outro lado, esse
Realizador de Sonhos nos permite participar do processo com a finalidade de
crescermos no conhecimento e dependência D’Ele. Em outras palavras, Deus em sua
soberana graça, nos permite tomar decisões em busca dos nossos sonhos. Um outro
ponto a ser ressaltado é o fato de que o caminho para a realização dos sonhos
é, em geral, difícil e doloroso.
O trajeto,
percurso para a realização de sonhos pode ser um instrumento de santificação
que nos aproxima de Deus e faz com que aprendamos submissão, humildade e
confiança em N’Ele. Ao mesmo tempo tem o objetivo de produzir alegria e glórias
a Deus quando finalmente o Realizador de Sonhos nos permite alcança-lo.
Como
exemplo desse árduo caminho em direção à realização de um sonho, a Palavra de
Deus apresenta, o sonho de ir à Roma, do apóstolo Paulo. A trajetória de Paulo,
em busca desse sonho, tem me ensinado e encorajado muito.
Paulo, era
um visionário focado em pessoas. Depois de sua conversão ele viajou por várias cidades
para apresentar o caminho para salvação eterna, por meio do sacrifício de
Jesus, na cruz. Em determinado momento ele sentiu o desejo de visitar Roma,
para que ali tivesse um tempo de refrigério e pudesse fortalecer os cristãos
daquele lugar (Rm 15.23-24). Entretanto, Paulo embora tenha tentado ir à Roma
muitas vezes, foi impedido de faze-lo e esse impedimento ocorreu por parte do
Realizador de Sonhos. Isso ficou evidente na carta que ele escreveu aos
romanos:
Deus, a quem sirvo de todo coração pregando o evangelho de seu
Filho, é minha testemunha de como
sempre me lembro de vocês em minhas orações; e peço que agora, finalmente,
pela vontade de Deus, seja-me aberto o
caminho para que eu possa visita-los[...]Quero que vocês saibam, irmãos,
que muitas vezes planejei
visita-los, mas fui impedido até
agora (Rm 1.9-13a – grifo meu).
Esse texto
possui grandes ensinamentos a nós sonhadores. Primeiro, Paulo vivia para
obedecer a Deus e isso lhe dava segurança de que o seu sonho não conflitava com
os planos de Deus, ou seja, tratava-se de algo apropriado à sua trajetória de
vida com Deus. Portanto, sonhos não são projetos loucos que nada tem a ver com
o curso natural e contexto de nossas vidas. Segundo, Paulo era submisso à
vontade do Realizador de Sonhos, isso porque ele pedia a Deus que o caminho lhe
fosse aberto, também entedia que se ele ainda não tinha realizado o sonho é
porque Deus o havia impedido. Assim, devemos ser humildes e submissos diante da
soberania de Deus em conduzir nossas vidas, podemos e devemos pedir que o
caminho seja aberto, mas entender e aceitar quando isso não acontece. Terceiro
aprendizado, Paulo planejava, ele tomava decisões em busca da realização do seu
sonho. Isso mostra que ele fazia o possível, buscava as oportunidades para que
o sonho pudesse acontecer, quando as portas se fechavam não era negligência
dele, mas a soberana vontade de Deus. Diante disso, nós temos a
responsabilidade de agir, porque o Realizador de Sonhos é o responsável por
abrir ou fechar as portas.
Após muitos
anos, Paulo realizou o sonho de ir à Roma, mas isso aconteceu depois de um
longo e sofrido percurso e de uma forma inusitada, até mesmo para Paulo. O
trajeto da realização desse sonho passou por muitas etapas desde as primeiras
tentativas até a realização final.
Quando
Paulo escreveu a carta aos Romanos dizendo que já tinha tentado visita-los, mas
tinha sido impedido, ele estava na Grécia. No entanto, Paulo foi conduzido, por
Deus, a voltar à Jerusalém (Rm 15.25). Humanamente pensando, era mais fácil
viajar da Grécia para Roma, a distância é menor, mas o Realizador de Sonhos não
pensa como seres humanos! Aprendemos então, que Paulo, estava mais interessado
em obedecer a Deus do que realizar seu sonho.
Ao chegar
em Jerusalém, Paulo, o servo obediente, foi recebido com alegria pelos irmãos
em Cristo (At 21.17), mas havia pessoas que o odiavam e injustamente o
acusaram, o que resultou em seu aprisionamento por parte do governo romano (At
21.27-35). Na prisão, Paulo recebeu o seguinte encorajamento de Deus: “Coragem!
Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar
também em Roma” (At 23.11b). Humanamente pensando, com Paulo preso, não
conseguimos visualizar essa possibilidade, porém, Paulo confiou na Palavra de
Deus. Podemos aprender que foi na prisão, onde as circunstâncias eram
completamente contrárias à realização do sonho, o lugar que Deus escolheu para
lhe dizer que o sonho seria realizado.
A história
continuou e depois de alguns dias Paulo foi transferido para a cidade de
Cesaréia, onde permaneceu preso por dois anos, conforme o relato contido nos
capítulos de Atos 23, 24, 25 e 26. Durante esse período preso em Cesaréia,
Paulo teve a oportunidade de anunciar o caminho da salvação em Cristo Jesus
para muitas pessoas de todas as classes sociais e níveis hierárquicos. Paulo
entendia que viver para Cristo era mais importante que realizar seu sonho. Um
novo aprendizado aos sonhadores de hoje, enquanto esperamos que o Realizador de
Sonhos abra as portas, precisamos viver para Cristo, sendo sal e luz onde Ele
nos coloca.
Finalmente
o dia da viagem chegou e Paulo teve o privilégio, mesmo preso, de viajar em
companhia de alguns grandes amigos (At 27.1-2). Entretanto, as dificuldades
ainda persistiram, durante todo o trajeto de navio entre Cesaréia e Roma foram
8 paradas em cidades diferentes, mau tempo, uma tempestade que resultou num
naufrágio, escassez de comida e uma picada de cobra, até que finalmente, ele
chegou como prisioneiro que aguardava julgamento em Roma (At 27 e 28). Pouco
antes do naufrágio, provavelmente quando ele já estava quase desacreditando de
que o sonho de ir à Roma fosse mesmo realizado, o Realizador de Sonhos enviou
uma mensagem de encorajamento: “Paulo, não tenha medo. É preciso que você
compareça perante César; Deus, por sua graça, deu-lhe a vida de todos os que
estão navegando com você” (At 27.24). Mais uma vez, um grande aprendizado a nós
sonhadores. O caminho para realização de sonhos passa por grandes dificuldades,
mas em todas elas temos na Palavra de Deus a força para prosseguir e o
encorajamento para nos animar.
Com esse
artigo, espero que continuemos a sonhar na certeza de que o Deus de Paulo
também é o nosso Deus. Na certeza de que se sonharmos os sonhos de Deus, apesar
das dificuldades Ele abrirá as portas e nos fará crescer em santidade. Tudo
para que rendamos glórias ao nosso eterno Pai e Senhor Jesus Cristo!
Porque sou eu que conheço
os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e
não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro (Jr 29.11).
Amém!
Bianca é casada com Luciano. Eles têm dois filhos, o Pedro e o Vitor. Ela faz parte da equipe docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, desde 2007 e é membro da Primeira Igreja Batista de Atibaia.
Bianca é doutora em Comunicação e Semiótica, mestre em Administração e graduada em Administração de Empresas.
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