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Sobre a adoção. Parte 2. Adoção como propósito. por Bianca Bonassi Ribeiro
Na primeira parte desse estudo, consideramos que a adoção é biblicamente
apresentada como benção. Na Palavra de Deus, o ato de Jacó em relação aos
filhos de José, garantiu aos adotados uma herança eterna. Nessa segunda parte
do estudo, o enfoque é apresentar que a adoção existe com um propósito. Na
Bíblia, isso é demonstrado por meio da adoção de Moisés pela filha do faraó
Egípcio.
Depois de mais ou menos 200 anos, os descendentes de Jacó e seus
filhos se multiplicaram e encheram o Egito (Ex 1.6). Nessa época, um novo faraó
começou a reinar e ele não sabia nada sobre como José, no passado, tinha sido
um bom governante para os Egípcios (Ex 1.8). Assim, esse novo governante, com
medo dos imigrantes israelitas, começou a oprimi-los com trabalhos forçados e
tarefas pesadas. Foram os israelitas que construíram as cidades-celeiro de
Piton e Ramessés e também eram forçados a executar todo tipo de trabalho
agrícola (Ex 1. 11-14). Nesse contexto de opressão, o faraó deu ordens às
parteiras dos israelitas para que quando nascesse um menino elas o matassem,
mas as meninas recém-nascidas poderiam viver. Entretanto, as parteiras (Sifrá e Puá) temeram a Deus e não mataram os
bebês do sexo masculino. Porém, a atitude das parteiras fez com que o coração
do faraó se endurecesse ainda mais e ele decretou que todo menino israelita,
recém-nascido, deveria ser lançado no Rio Nilo (Ex 1. 15-22).
Em um contexto de incerteza, opressão e medo para todos os
israelitas, nasceu Moisés, um bebê, que deveria ser lançado no Rio Nilo para
que morresse. Deus escolheu esse período de caos e o vínculo biológico
israelita para o nascimento de Moisés. Os nascimentos são planejados por Deus
como descrito no Salmo 139.16: “Os teus olhos viram o meu embrião; todos os
dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles
existir”. Os pais biológicos de Moisés eram Anrão e Joquebede, eles já tinham
Arão e Miriã, que por serem mais velhos estavam fora de perigo.
Anrão e Joquebede, em um ato de fé, esconderam Moisés por três
meses, o que nos faz entender que eram pessoas tementes a Deus (Hb 11.23). Mas,
esse casal estava numa situação complicada, que exigia decisões de impacto
eterno. De acordo com o relato de Êxodo 2.1-10, podemos imaginar algumas
considerações interessantes nessa história:
a)
No meio do caos, Joquebede “já não podia mais esconde-lo” (Ex 2.3a)
– o bebê provavelmente estava fazendo mais barulho e precisava de maior
interação com o mundo. Nesse ponto, após os três meses, o casal poderia ser
denunciado por não cumprirem a ordem do faraó e, ao serem descobertos, toda
família sofreria as consequências. Joquebede, pode ter considerado possíveis punições
para a família toda (morte, tortura, prisão) possíveis crueldades da parte do faraó.
b)
Então, Joquebede: “pegou um cesto feito de junco e o vedou com
piche e betume. Colocou nele o menino e deixou o cesto entre os juncos, à
margem do Nilo” (Ex 2.3b). Uma vez que a Bíblia não evidencia detalhes,
podemos supor duas hipóteses levaram Joquebede a deixar o bebê nas margens do
Rio Nilo. Vale ressaltar que ambas possibilidades em nada diminuem Joquebede e
Anrão como pessoas tementes a Deus:
H1: Talvez os pais biológicos de Moisés
tenham desenvolvido uma estratégia de salvamento baseada em forças humanas. O
que quero dizer é que às vezes, nós seres humanos tentamos ajudar Deus a resolver algumas questões. Agimos como se Ele
estivesse alheio à gravidade ou urgência do problema. Se esse foi o caso,
Joquebede, em um momento de fraqueza e desespero, deixou Moisés num cesto, na
margem do Rio Nilo, de maneira que ela cumpriu a ordem do faraó sem considerar
a direção de Deus para essa decisão. Essa hipótese surgiu com base na leitura
de Atos 7.18-21 quando Estevão menciona que os pais eram forçados, compelidos a
abandonar seus bebês:
Então outro rei, que nada sabia a
respeito de José, passou a governar o Egito. Ele agiu traiçoeiramente para com
o nosso povo [...] obrigando-os a abandonar os seus recém-nascidos, para que
não sobrevivessem [...] naquele tempo nasceu Moisés [...] por três meses ele
foi criado na casa de seu pai. Quando foi abandonado, a filha do faraó o tomou
e o criou como seu próprio filho (NVI).
Quando penso nesta hipótese não pretendo
transformar Joquebede e Anrão em vilões, mas acredito que o propósito de Deus
vai além de nossas fraquezas, ou seja, Deus usou esse ato para conduzir a
adoção de Moisés pela filha do faraó.
H2: Joquebede e Anrão consultaram a Deus
e foram orientados a construir um cesto vedado e deixar Moisés às margens do
Nilo, onde costumeiramente a filha do Faraó tomava banho. Dessa maneira, a
princesa poderia se compadecer da criança e salvá-la. Neste caso, teríamos uma
obediência por parte de Joquebede ao faraó, porém debaixo de uma orientação
expressamente divina. Esta hipótese parte da premissa que Deus estava no centro
das decisões e escolhas do casal e os orientou em cada passo.
Em ambas hipóteses, quando Joquebede fez um cesto vedado, para
proteger o bebê notamos que ela planejou algo que pudesse prolongar a vida de
Moisés. Fato muito pertinente e importante de ser lembrado, porque pessoas
tementes a Deus não matam bebês estejam eles dentro ou fora da barriga!
A Bíblia faz silêncio em mostrar qual das duas hipóteses é a
correta. Porém, gostaria de salientar que ambas opções cabem na vida de
Joquebede e Anrão, pessoas tementes a Deus. Eles, ao contrário de nós, ainda
não possuíam a Palavra de Deus escrita e revelada como a que nós temos acesso. Sem
dúvida o processo decisório deles era mais difícil do que o nosso. Qualquer uma
das duas possibilidades conduz para o plano divino em usar a adoção como parte
do propósito de Deus para a vida de Moisés.
Enquanto Moisés estava na margem do Rio Nilo, a filha do faraó foi
tomar banho e pediu que suas criadas apanhassem o cesto. A princesa, ao abri-lo
viu um bebê chorando e logo reconheceu que era um menino israelita, mas mesmo
assim decidiu adotá-lo, inclusive o nome (Moisés) quem deu foi a mãe adotiva
(Ex 2. 5-10). Sendo assim, Moisés, teve acesso à educação e cultura da mais alta
qualidade disponível naquele período. De acordo com Atos 7.22 “Moisés foi
educado em toda a sabedoria dos egípcios e veio a ser poderoso em palavras e
obras”. Ele era um homem influente na corte e muito inteligente, ele aprendeu a
ser líder e governante, habilidades seculares que posteriormente foram usadas
para a Glória de Deus. O professor Carlos Osvaldo Cardoso Pinto (2006, p. 73)
apresenta que “o nascimento e a proteção sobrenatural de Moisés lhe trouxeram,
ao mesmo tempo, uma criação hebraica e instrução na corte egípcia”.
O intervalo de tempo em que Moisés viveu e conviveu na corte
egípcia não é declarado pela Palavra de Deus. No entanto, o propósito da adoção
de Moisés foi treiná-lo para uma missão que aconteceria décadas depois. Ele foi
o líder do êxodo do povo de Israel, o homem que Deus usou para conduzir e
libertar os israelitas da opressão e escravidão.
Algumas das funções do líder Moisés, debaixo do propósito de Deus,
provavelmente foram executadas com base na formação egípcia que ele recebeu:
a)
Moisés
atuou como juiz – isso porque tinha sabedoria e
discernimento para julgar as questões do povo, ele sabia como uma autoridade
deveria proceder (Ex 18. 13);
b)
Moisés
desempenhou função de mestre/ professor – ele sabia como
ensinar porque tinha aprendido com bons mestres, havia nele didática de
professor (Ex 18.16b; 18.20; 24.7; Ex 24.13);
c)
Moisés
agiu como gestor – ele sabia delegar e cobrar
responsabilidades, essas funções são inerentes a cargos de autoridade (Ex 18.
21-26);
d)
Moisés
foi escritor – ele escrevia tudo o que o Senhor lhe dizia,
ele tinha sido educado nas melhores escolas (Ex 24.4,7);
e)
Moisés
foi engenheiro – ele sabia ler e interpretar uma
planta (Ex 25.8, 40), também estava apto a orientar e gerenciar a execução dos
projetos. O Egito era uma das nações que tinham as melhores e maiores obras
arquitetônicas (Ex 35.30 a 36.6; Ex
40.1-8, 16-33).
Por fim, o que começou com uma situação de tristeza (deixado num
cesto na margem de um rio) foi usado por Deus para completar o propósito de
treinamento na vida de Moisés. Geralmente, uma adoção envolve momentos e
situações de tristeza, assim como foi na vida de Moisés. Mas, Deus, em sua
infinita criatividade, disponibilizou o recurso da adoção como parte da
redenção das consequências da queda. Tenho certeza de que Ele tem um propósito
tanto para a vida dos adotados quanto para a dos adotantes.
Quando meus filhos me perguntavam porque eles não tinham nascido
da minha barriga, a minha resposta sempre foi: Deus é muito criativo para fazer a história de todo mundo igual!
Bianca Bonassi Ribeiro
Confira também a primeira parte do texto:
Bianca é casada com Luciano. Eles têm dois filhos, o Pedro e o Vitor. Ela faz parte da equipe docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, desde 2007 e é membro da Primeira Igreja Batista de Atibaia.
Bianca é doutora em Comunicação e Semiótica, mestre em Administração e graduada em Administração de Empresas.
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