NelsonGalvao,

Você vai sofrer, por pr. Nelson Galvão

junho 14, 2017 Mulher da Palavra 0 Comments



“Pare de sofrer”, “seja um vencedor”, “você é um campeão”, “seja cabeça e não calda”, “tenha a unção de conquista”.

Esses bordões têm sido muito usados em púlpitos e músicas cada vez mais populares. Digo “cada vez mais populares” porque têm extrapolado os arraiais iurdianos. As igrejas Neopentecostais no Brasil, influenciadas pela “confissão positiva” de norte-americanos como Kenneth Hagin, detêm o poder midiático e têm conseguido influenciar corações e mentes de muitos evangélicos, pentecostais e tradicionais, especialmente aqueles que nutrem um profundo comprometimento com a cultura de consumo, onde não existe espaço para fracassos, dissabores ou desilusões.

De forma muito acurada, em sua dissertação de mestrado, Marina Correa (PUC-SP: 2006), tratando sobre os motivos que levaram às mudanças na Assembléia de Deus, aponta que as igrejas de orientação neopentecostal crescem em demasia porque a mensagem pregada nesses púlpitos, não têm uma relação de estranhamento com a cultura, mas sim uma relação harmoniosa. Para uma cultura em que o discurso dominante é a diversidade religiosa, o bem estar moderno, prosperidade e riqueza, sucesso individual e ascensão social, a pregação neopentecostal oferece: flexibilidade doutrinária; afirmação do bem estar como dom e possibilidade; riqueza como dom de Deus, conseguida pelo dízimo; sucesso individual; ascensão social.

Qual é o problema?

O problema desse tipo de teologia é que ela é diabólica, pois deturpa a sã doutrina bíblica, diviniza o homem e apresenta um deus limitado pelos desejos e caprichos do indivíduo que se entende evangélico, mas que é idiotizado pela própria ganância. Além disso, aliena o crente da realidade e não o prepara para os desafios no mundo. Como essa cultura “Gospel” está distante do verdadeiro Evangelho!

O que diz o Evangelho

Por causa do Evangelho... sim, pelo fato de seguirmos a Cristo e nos posicionarmos firmemente em relação aos seus ensinamentos, veja o que Jesus nos alertou que aconteceria:

·         “no mundo tereis aflições” (Jo 16:33);
·          “então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes, por causa do meu nome (Mt 24:9); 
·         o pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra” (Lc 12:53);
·         Ide, eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos” (Lc 10:3).

Veja ainda Mt 10. Nesse texto Jesus comissiona os discípulos e Ele os avisa a respeito do que os aguardava:

·         Vocês são enviados como ovelhas entre lobos. v. 16
·         Vocês serão entregues aos tribunais e açoitados nas Sinagogas. v. 17
·         Vocês serão presos por causa dEle. v. 18
·         A sua família se voltará contra vocês. v. 21
·         Vocês serão odiados por todos. v. 22
·         Como vocês serão chamados se ao mestre chamaram de Belzebu? v. 25

Jesus não seria popular entre muitos evangélicos

É incrível! Jesus nunca seria chamado para pregar em muitas Igrejas evangélicas hoje. A mensagem dele não seria popular. Ao povo que o buscaria para resolver seus problemas, ele diria:

A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos” (Jo 6.26).

Escrevendo isso, me sinto um “estraga prazeres”... eu sei! Mas, pense comigo: seguir a Cristo é muito mais do que a cultura Pop gospel quer que pensemos que seja.

 Chega de shows que apenas enriquecem o bolso de falsos mestres; chega de mega igrejas que apenas promovem o ego de pastores megalomaníacos; chega de livros de auto-ajuda evangélicos que só alimentam a soberba dos escritores. Chega de orações que estão mais interessadas com um reino terreno!

Seguir a Cristo não tem haver com essa cultura de consumo. Não reduza a mensagem da cruz a um fast food  existencial onde você vem, se serve de acordo com o que precisa e vai embora.

Essa cultura reduz o Evangelho ao bordão: “Jesus te ama e tem um plano maravilhoso para a sua vida”. Entenda-se por “amor” e “plano” por ascensão social, saúde e alcance de seus próprios sonhos.

O Evangelho de Cristo não tem nada haver com campanhas de oração para um melhor salário, uma casa nova, um carro novo, saúde ou prosperidade.

Você pode fazer quantas campanhas de sete semanas que julgar necessário. Talvez até consiga algo do que busca. Todavia, não terá sido Deus quem te deu (Mt 24.24) e você vai continuar enganado, e enganando (2 Tm 4.3,4), pela sua própria ganância, achando que pode lançar mão de subterfúgios com o Criador como se Ele fosse aquelas entidades da Umbanda, que são manipuladas com oferendas.

Se você pensa assim, devo lhe alertar que você não entendeu nada do Evangelho. Esta é uma cultura evangélica medíocre que foi construída a partir de um contexto de cultura de massas que é mesquinho. Esse é um evangelho pobre, sem vida, falso e que não transforma, apesar de arrebanhar muita gente.

Implicações da fé em Cristo

A fé em Cristo tem implicações na vida do crente (no trabalho, entre colegas na escola, na família), entre o que o mundo determinou que você pense, sinta e faça e os verdadeiros planos de Deus para você.

Algumas vezes essa escolha acarreta em dissabores. Abraão experimentou isso quando escolheu ser obediente e sair rumo ao desconhecido; José foi posto na prisão, por decidir se manter fiel; Jó ainda que tenha perdido tudo, não negou ao seu Deus; Daniel foi jogado aos leões porque decidiu se manter firme. Esses casos você conhece a história, terminaram bem. Entretanto, veja a galeria da fé de Hebreus 11: 35-38:

Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões; Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados”. (Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra.

O Senhor apareceu a Ananias e disse a respeito de Paulo: “eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome.” (At 9.16). Vários anos depois, Paulo relata aos Coríntios o que passou por conta de sua fé em Cristo:

Em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites, menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens, muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias, muitas vezes, em fome e sede, em jejum, muitas vezes, em frio e nudez. (2 Co 11:23-27)

Alguém deveria ter dito a Paulo que bastava ele amarrar, declarar, fazer campanhas e jejuns que ele não passaria por tudo o que passou!!!

Todavia, ao contrário disso, Paulo expressa sua convicção a esse respeito da seguinte forma: “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições (2 Tm 3:12).


Sofrendo, mas firmes!

Sim, se você escolheu ser firme em suas convicções cristãs, você vai sofrer! Infelizmente são poucos os líderes hoje que se posicionam publicamente. Um grande número de líderes está disposto a abrir mão de suas convicções, apenas para manterem seus cargos e privilégios denominacionais.


Por outro lado, ainda há pastores que decidiram não se dobrar a Baal! E sofrem por isso!! Não sucumbem à pressão de sua denominação ou igreja que abraçou uma cultura evangélica que nega/distorce as Escrituras para acomodar-se ao status quo. Refiro-me a questões de divórcio/recasamento, pastorado feminino, homossexualismo, etc.

Há muitos pais de família que escolhem perder seus empregos a relativizar sua fé. Ainda aqueles que não são promovidos, e isso, não porque são menos qualificados, mas porque são fiéis a Cristo.

Conheço inúmeras mulheres que foram abandonadas pelo seu marido, mas permanecem fiéis ao Seu Senhor e não se casam novamente. Existem também aquelas que sofrem com um casamento ruim, mas ainda assim insistem em permanecer, não casando novamente em nome de uma pretensa “felicidade”.

Oro continuamente por jovens que sofrem com seus pais descrentes. Vejo constantemente jovens optarem por ficar solteiros a ter um namoro promíscuo e outros que sofrem “bulling” por parte de professores e colegas na universidade por manter-se fiéis a Cristo. Existem vários jovens cujos colegas de escola não o têm como uma boa companhia (e isso porque esses jovens cristãos não faz o que eles fazem!).

Sofrimento é identificação com Cristo

Diante disso, quero convidá-lo a enxergar o sofrimento na perspectiva verdadeiramente cristã. É incrível! Para as Escrituras, o sofrimento é identificação com Cristo.

Jesus afirmou que são felizes aqueles que sofrem por causa dEle. No sermão da montanha Jesus disse:

“Bem-aventurado sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. (Mt 5.11,12)

Após dar advertências do que estava por acontecer a seus discípulos, Jesus afirmou: “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”. (Mt 10.32)

Na sua 1ª carta, o apóstolo Pedro disse:

Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. (1 Pe 4.12,13)

Em Fl 2.29, Paulo afirma que “por amor de Cristo, vos foi concedido não somente crer nele, mas também sofrer por ele”. O verbo “concedido”, nesse contexto, denota algo que foi dado graciosamente; no caso, tanto a fé quanto o sofrer por Cristo.

Agora, assim como nos identificamos com Ele na sua morte, também nos identificamos com Ele na sua ressurreição e glória. Sim, existe um lugar preparado para o povo de Deus. Esse lugar foi preparado pelo Pai para todos aqueles que confiam na justiça que vem de Cristo. Apocalípse 21 é alentador para aqueles que esperam somente em Cristo. O apóstolo João viu profeticamente o tempo em que Deus fará novo céu e nova terra. Nesse tempo, o Senhor ”lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).

Sendo assim saiba que você vai sofrer, uma vez que você é fiel a Cristo! Entretanto, diante do sofrimento, lembre-se de que Jesus, como cordeiro, sofreu as mais terríveis dores está ao seu lado e lhe da forças para manter-se firme. Lembre-se da bendita esperança; olhe para frente, para Jesus que está por vir, mas dessa vez como Leão!


Pr. Nelson Galvão
Sola Scriptura

Nelson é casado com Simone desde 1997 e eles têm um filho. Ele é formado em História e Teologia, pós-graduado em Administração Escolar e mestre em Educação (PUC-SP). Atualmente faz mestrado em Teologia do Novo Testamento no Seminário Bíblico Palavra da Vida- Atibaia, SP. 
É pastor interino da Igreja Batista Sião (São José dos Campos-SP) e atua como diretor acadêmico do ministério Pregue a Palavra. 
Atua ainda como coordenador do grupo do Pregue a Palavra de Cuba e como professor convidado da Escola de Pastores PIBA.


Você também vai gostar:

0 comentários:

Obrigado por deixar aqui seu comentário

Comentários