Feminilidade,

A Essência da Feminilidade - PARTE I. por Elizabeth Elliot

março 02, 2018 Mulher da Palavra 0 Comments



As feministas são dedicadas à premissa de que a diferença entre homens e mulheres é uma mera questão biológica. O resto de nós reconhece uma realidade bem mais profunda, que nos coloca num plano totalmente diferente de meras distinções anatômicas. Tal diferença é insondável e indefinível, embora homens e mulheres tenham tentado, sem cessar, sondá-la e defini-la. Ela é inevitável e inegável; mesmo assim, nas últimas décadas, esforços bem-intencionados têm sido feitos em nome da decência, igualdade e justiça, pelo menos para evitá-la e, quando possível, negá-la. Eu me refiro, é claro, à feminilidade – uma realidade do design divino e da criação de Deus, Seu dom para mim e para todas as mulheres – e, de um modo bem diferente, Seu dom para os homens também. Se nós realmente compreendêssemos o que é de fato a feminilidade, talvez a questão dos papéis se resolvesse sozinha. O que eu tenho a dizer não é validado por eu ter um diploma ou uma posição numa faculdade ou na administração de uma instituição de aprendizado de ensino superior. Nem pelas minhas inclinações genéticas ou temperamento. Pelo contrário, é o que eu vejo como o arranjo do universo e da total harmonia e tom das Escrituras. Este arranjo é uma ordem hierárquica gloriosa de esplendor gradual, começando com a Trindade, descendo através dos serafins, querubins, arcanjos, anjos, homens e todas as criaturas menores, uma dança universal, coreografada para a perfeição e realização de cada participante.
            Durante anos, eu observei com descontentamento crescente, até mesmo angústia, o que tem acontecido com nosso sistema educacional, nossas igrejas, nossos lares e mesmo os níveis mais profundos da personalidade, como resultado de um movimento chamado feminismo, um movimento que confere grande consideração à qualidade de ser uma pessoa, mas muito pouco à qualidade de ser uma mulher, e quase nenhuma atenção à qualidade de ser feminina. Termos como “ser um homem” e masculinidade foram eliminados de nosso vocabulário e nós fomos ensinados, sem nenhuma hesitação, a esquecer tais coisas, que não são nada mais que aspectos da Biologia e a nos concentrarmos no que significa ser “pessoas”.
            Através dos milênios da história humana, até as duas últimas décadas, mais ou menos, as pessoas davam como certas que as diferenças entre homens e mulheres eram tão óbvias que nem havia necessidade de pontuá-las. Eles aceitavam as coisas como eram. Mas nossas conclusões serenas têm sido atacadas e confundidas e perdemos nossos suportes num nevoeiro de retórica de uma coisa chamada igualdade, de modo que me encontro na posição desconfortável e cansativa de ter que explicar a pessoas de certo nível de instrução o que um dia foi perfeitamente óbvio para a mais simples das pessoas.
            Deixe-me fazer uma confissão. Quase tudo que constitui um ponto polêmico na vida americana moderna é visto por mim a partir do vantajoso ponto dos mais simples, da cultura da Idade da Pedra, na qual eu já vivi. “Por que tanta confusão? Como explico para eles?” Esta perspectiva exótica, de certo modo, lança uma luz mais clara sobre os temas básicos que me ajudam a avaliar estes problemas.
            Por anos eu vivi com índios numa selva da América do Sul, que expressavam sua masculinidade e feminilidade de várias maneiras, que não fingiam que era possível negligenciar tais diferenças e onde não havia discussão sobre papéis. A feminilidade da mulher era uma profunda consciência de para que ela foi criada. Tal ideia era expressa em tudo que ela fazia de modo diferente dos homens, desde o penteado e roupas (se ela usasse alguma), até a maneira como sentava e o trabalho que fazia. Qualquer criança sabia que as mulheres teciam redes, faziam potes e pegavam peixes com suas próprias mãos. Também que elas limpavam o matagal, plantavam e carregavam os fardos mais pesados. Já os homens cortavam árvores e caçavam, pescavam com redes e lanças e não carregavam nenhum peso se houvesse uma mulher por perto. Ninguém reclamava de nada. Estas responsabilidades não eram uma escolha, não eram intercambiáveis, nem iguais. Ninguém pensava em poder, prestígio ou competição. Ninguém falava de papéis. Era assim que as coisas eram.
            Uma vez, naquele jeito que os estrangeiros têm de estragar as coisas, eu criei uma confusão, quando peguei a lança de 2,5m de um homem e fingi que ia lançá-la. Eles quase morreram de tanto rir. Se não tivessem encarado como uma piada, eu estaria em sérios apuros. As mulheres não têm que se meter com lanças. O poder delas não vinha de serem iguais aos homens, mas de serem mulheres. Os homens eram homens e as mulheres estavam felizes com isso. Elas compreendiam que era assim que as coisas foram arranjadas originalmente e gostavam que fosse assim.
            Tal perspectiva, entre outras coisas, convenceu-me de que este negócio civilizado de “papéis” é quase sempre, para ser bem sincera, uma luta por poder. Ao voltar para meu país e ouvir muitos diálogos sérios sobre os papéis da mulher nisto ou naquilo, eu percebi que “isto ou aquilo” nunca foi a respeito de pescar ou cultivar a terra, escrever um livro, dar à luz um bebê, mas sempre algo que tocava de algum modo nas questões de autoridade, poder, competição ou dinheiro e não no significado da sexualidade, um assunto mais vasto e importante. Na política, em grandes negócios, na educação superior, o feminismo é discutido com frequência. Mas a feminilidade? Nunca. Talvez não deva ser uma surpresa que uma educação secular mais elevada tenha, há muito tempo, descartado a imagem da feminilidade como totalmente irrelevante para qualquer coisa que realmente seja importante, mas é uma calamidade que a educação superior cristã siga o mesmo padrão. E isto é o que está acontecendo. Um pouco antes de morrer, Francis Schaeffer disse “Me diga o que o mundo está dizendo hoje e eu lhes direi o que a igreja estará dizendo daqui a sete anos.”
            É minha observação – e, deixe-me adicionar, minha experiência – que a educação cristã superior, andando alegremente no trem das guerreiras feministas, está disposta e ansiosa para tratar o assunto do feminismo, mas amordaça o termo feminilidade. Talvez considere o assunto trivial ou indigno de busca acadêmica. Talvez a razão verdadeira seja que sua premissa básica é o feminismo. Desse modo, simplesmente não pode suportar a feminilidade.
            A filosofia secular vem a nós diariamente com força terrível e precisamos da exortação de Paulo aos cristãos romanos. “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês.” (Romanos 12.2, NTLH). A filosofia feminista, que soa tão racional na superfície, é um veneno delicado e penetrante, infectando a mente dos cristãos e não cristãos. Fiquei impressionada ao encontrar em uma publicação acadêmica secular, o The Intercollegiate Review (de 1987), uma crítica ferrenha intitulada “A Barbárie do Programa Feminista”, na qual a autora, Carol Iononne, expôs a motivação política do feminismo, a supressão de dados no serviço da política feminista, a defesa especial e as contradições embutidas.
            A autora citou o processo que a Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (Equal Employment Opportunity Comission) abriu contra a Sears, Roebuck and Company, a maior empresa empregadora de mulheres do país, com acusações de discriminação contra as mulheres por causa do elevado número de homens promovidos às comissões de vendas. Depois de onze anos ajuntando evidências para seu caso, a COIE não encontrou nem uma testemunha para afirmar que tinha sido vítima de discriminação. Pela primeira vez na história deste tipo de processo, a Sears resolveu contra-atacar, afirmando que não havia mulheres suficientes dispostas a aceitar o emprego de comissão, então, fatores diferentes de discriminação deveriam ser a explicação. Eles tentaram achar um perito na história das mulheres, mas uma mulher recusou trabalhar com eles, afirmando que jamais testemunharia contra a COEI, e um homem também o fez, com medo de perder suas credenciais de feminista. Apenas Rosalind Rosenberg, do Barnard College, concordou em testemunhar.
            Rosenberg argumentou baseada no fato do registro histórico: homens e mulheres têm interesses, objetivos e aspirações diferentes. As mulheres não estão tão interessadas em pneus, máquinas e revestimentos de alumínio quanto os homens. Rosenberg foi atacada não por causa do conteúdo de seu testemunho, mas simplesmente por testemunhar. Foi um “ato imoral” e ela foi chamada de traidora, etc.
            O fato de que uma pessoa ache necessário afirmar num tribunal que homens e mulheres tem interesses diferentes já mostra o quanto nós caímos no absurdo. Falar de diferenças verificadas cientificamente na estrutura do cérebro masculino e feminino ou diferenças endocrinológicas, as quais afetam o comportamento social de homens e mulheres, é correr riscos de sofrer acusações de machismo, chauvinismo, estupidez ou como no caso da Dr. Rosenberg, imoralidade.

Elizabeth Elliot


Fonte: Revive our hearts. Website: reviveourhearts.com. 
Traduzido com permissão. 
Título original:  The Essence of Femininity: A Personal Perspective

Tradução: Viviane Andrade


Elisabeth Elliot, nascida em 21 de dezembro de 1926, é uma escritora e palestrante cristã. Seu primeiro marido, Jim Elliot, foi morto no início de 1956, ao tentar fazer contato com os Auca (atualmente conhecidos como Waorani), no leste do Equador. Mais tarde ela viveu dois anos como missionária entre os membros da tribo que assassinou seu marido. 
É autora, entre outros livros, de Let Me Be a Woman, Keep a Quiet Heart, Secure in the Everlasting Arms, Passion and Purity e Faith That Does Not Falter.


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