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Verdadeiro viajante. por Nelson Galvão

setembro 18, 2018 Mulher da Palavra 0 Comments



Como você definiria um cristão? Em 1678, John Bunyan lançou o que se tornaria um dos maiores clássicos da literatura cristã, “O Peregrino”. Nessa alegoria, Bunyan retrata a caminhada do Cristão, desde sua saída da Cidade da Destruição, até chegar ao Monte Sião, o céu. No prefácio, Bunyan se refere ao livro da seguinte forma: “Este livro de ti fará verdadeiro viajante”[1]. Acho que essa é uma boa expressão para definir um cristão.
No texto que iremos estudar hoje (Fl 3.12-21), Paulo apresenta sua perspectiva de um verdadeiro viajante.

1   1-     O verdadeiro viajante tem um alvo. v.12

Paulo menciona esse alvo no início do texto (v.12), no meio (v. 14) e no fim (v. 20). Ele diz que esse alvo é aquilo pelo qual foi alcançado. Que alvo seria? É o chamado celestial, a pátria que está no céu. Paulo vivia toda a sua vida com o pensamento de que estava em direção ao ponto de chegada. Essa perspectiva muda tudo! Quem vive como viajante sabe que deve constantemente corrigir rota, não se deter em situações que o afastem do objetivo, tomar cuidado com os atalhos. A criação de filhos, o trabalho, o casamento, tudo se dá a partir de uma nova perspectiva. Sabe qual é a diferença de um viajante para um andarilho? O alvo de chegada. O primeiro tem o alvo, e bem estabelecido, o segundo não o tem.
Você vive de acordo com o que nos está prometido no céu? Ou será que você já se deteve em meio a tantos desvios que já perdeu de vista o alvo?

2   2-      O verdadeiro viajante não pensa que já chegou. v. 13

Curioso que Paulo afirma que ainda não havia alcançado o alvo. Do que Paulo está falando? Será que ele não tinha a certeza de sua salvação? Não, a questão é que ele ainda não havia alcançado a perfeição, a ressurreição do corpo, a morada celestial. Existem aqueles que pensam que já alcançaram a perfeição. Seu casamento é perfeito, seu jeito de lidar com as pessoas é perfeito, seu estilo de vida é perfeito. Que triste! Distante de casa acham que já chegaram!

3-       O verdadeiro viajante prossegue deixando o que passou para trás. v. 13b

Que coisas são essas que Paulo menciona que deixaria para trás? Em versículos anteriores (v. 4-6) ele alista uma série de itens que, no passado, achava que lhe davam credencial para merecer o céu. Entretanto, em Cristo, tudo aquilo era perda. Ou seja, Paulo deixava para trás toda uma perspectiva meritocrática de vida e morte. Ficava para trás toda uma vida de autoconfiança. Esse deve ser um exercício constante. Aqui e acolá somos acometidos, pelos nossos próprios corações, por pensamentos de que, de alguma forma, fazemos por onde merecer a bênção de Deus.

4-       O verdadeiro viajante lembra-se do prêmio.v.14

Alvo e prêmio não são a mesma coisa. O alvo é o objetivo a ser alcançado. O prêmio é o que se ganha por ter alcançado o objetivo. O que Paulo está dizendo é que sua motivação para chegar ao objetivo é o prêmio. Que prêmio é esse? Se os últimos versos correspondem a ideia de alvo e prêmio, Paulo afirma que o alvo é a pátria celestial (v. 20) e o prêmio é ter o corpo transformado à semelhança com o de Cristo (v. 21). Com esse corpo sendo transformado não haverá mais pecado ou dor. Esse prêmio se dá unicamente através de Cristo (v. 14).
Quando você pensa em futuro, o que você pensa? Aposentadoria? Condição melhor de vida? Sossego? Nada se compara ao prêmio que nos está reservado.

5-       O verdadeiro viajante entende que a caminhada o prepara para a chegada. v. 15,16

No v. 15 Paulo diz que é maduro, mas no v. 12 ele tinha dito que não considerava que já era maduro. O que Paulo quer dizer com isso? Paulo está fazendo um jogo de palavras. No v. 12 ele se contrapõe aos judaizantes que se consideravam perfeitos. Diante disso ele diz que não se considerava perfeito/maduro. Já no v. 15 ele se refere à obra de Cristo na regeneração do crente. Através de Cristo somos transformados e temos uma nova natureza.  A partir dessa nova natureza, a graça no leva a um caminho de aperfeiçoamento continuo até o alcance da pátria celestial. Em outras palavras, as circunstâncias da vida, suas alegrias e dissabores, fazem parte da nossa preparação para a pátria celestial.
Sendo assim, prossiga a partir daquilo que você já aprendeu (v. 16); ou seja, nesse crescimento constante, efetuado pela pedagogia de Deus, é muito importante a apreensão consciente de aprendizados que nos foram apresentados mediante as circunstâncias.

6-       O verdadeiro viajante segue bons exemplos e toma cuidado com os inimigos. v. 17-19

A caminhada cristã é cheia de obstáculos. São diferentes situações que concorrem o tempo inteiro para nos fazer sair da rota. Em seu livro “O Peregrino”, John Bunyan menciona algumas dessas dificuldades: o desânimo; a sabedoria segundo o mundo; a ignorância; a dúvida. Paulo ressalta um desses obstáculos nos vs. 18,19. São pessoas que são definidas por Paulo como “inimigas da cruz de Cristo”. Quem são essas pessoas? Ele já havia mencionando-as no início do cap. 3, no v. 2. Eram os judaizantes. Aqueles que, mesmo admitindo que Cristo é o Messias, não criam que Ele é suficiente para a salvação. Teimavam em crer e ensinar que para a salvação é preciso crer e observar os mandamentos. Sobre estes, Paulo diz que: “O fim deles é a perdição; o deus deles é o estômago; e a glória que eles têm baseia-se no que é vergonhoso; eles se preocupam só com as coisas terrenas.
Sendo assim, seja criterioso em relação a quem você irá seguir o exemplo (v. 17). Aproxime-se e ande com gente realmente crente, gente que tem uma vida piedosa e o auxilia no crescimento espiritual. Suas amizades são um indício de sua espiritualidade.


7- O verdadeiro viajante lembra-se de onde é a sua casa. v.20-21

Paulo começa falando do alvo (v. 12) e termina falando desse alvo (v. 20,21), a saber, a pátria celestial. Enquanto alguns preocupam-se somente com as coisas terrenas, Paulo aponta novamente para onde está o seu coração, a pátria celestial. Isso não quer dizer que não devemos estudar, trabalhar, ou mesmo casar, mas apenas esperar o céu! De forma nenhuma! Isso significa que tudo o que diz respeito a essa vida, não é o alvo final, então não deve ser o centro da nossa vida. Tudo o que fazemos, trabalho, estudos, lazer, tudo deve ser feito com vistas à eternidade.

Paulo começa falando de Cristo (v. 12) e termina falando de Cristo (v. 20,21):

a.      Foi Cristo que nos alcançou para a perfeição – v. 12.
b.     É Cristo que nos dá o prêmio – v. 14.
c.      Cristo, o Nosso Salvador, virá do céu nos buscar – v. 20.
d.     Cristo transformará o Nosso corpo de acordo com o Seu glorioso corpo – v. 21.

Ou seja, é Cristo que nos faz viajantes e é Cristo que nos conduz até a nossa casa! E uma vez em casa... Bunyan descreve um pouco do sentimento de chegada onde fala da chegada de Cristão e Esperançoso:

“Então vi em meu sonho os dois homens passando pelo portão, e eis que, entrando, se transfiguraram e receberam vestes que resplandeciam como ouro. Também alguns os receberam com harpas e coroas, que lhes foram dadas: a harpa para o louvor e as coroas como sinal de honra. Nesse momento, ouvi em meu sonho que todos os sinos da cidade repicavam de júbilo, e aos peregrinos se disse: “Participe da alegria do seu Senhor” (Mt 25:21). Ouvi também que os próprios peregrinos cantavam a plenos pulmões: — Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro, sejam o louvor, a honra, a glória e o poder para todo o sempre! (Ap 5:13)”[2].

Nelson Galvão



[1] Bunyan, John. O peregrino (Clássicos MC) (Locais do Kindle 256-257). Editora Mundo Cristão. Edição do Kindle.
 [2] Ibid.


Confira também as pastorais anteriores em Filipenses:




Nelson é casado com Simone desde 1997 e eles têm um filho. Ele é formado em História e Teologia, pós-graduado em Administração Escolar e mestre em Educação (PUC-SP). Atualmente faz mestrado em Teologia do Novo Testamento no Seminário Bíblico Palavra da Vida- Atibaia, SP. 
Atua como diretor pedagógico do ministério Pregue a Palavra, como coordenador do grupo do Pregue a Palavra de Cuba e como professor convidado da Escola de Pastores PIBA.

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