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A longa jornada da espera. Por Bianca Bonassi Ribeiro

julho 28, 2017 Mulher da Palavra 0 Comments



O foco dessa meditação é encorajar a todos, que de uma forma ou outra sentem-se forçados a esperar meses ou anos, simplesmente porque esta é a vontade de Deus. Especialmente àqueles, cuja personalidade tende à uma vida planejada, orientada para resultados e com muita disposição e iniciativa para agir. Imagino que para tais pessoas qualquer tipo de espera pode parecer torturante, massacrante e agonizante. Entretanto, a espera é um dos pilares da nossa fé, ou seja, todo cristão convertido espera que Jesus, um dia, voltará. Porém, esse tipo de espera nem ao menos sentimos, simplesmente porque somos apegados a esse mundo material e terreno. Em contrapartida, quando enviamos centenas de currículos e não somos chamados para nenhuma entrevista ou aguardamos a chegada de um filho (seja uma gravidez ou adoção) ou ainda, a realização de um projeto com qual sonhamos com cada detalhe (casamento, viagem, um novo negócio, compra de um carro/ moradia, etc.) o ato de esperar se transforma numa longa jornada. O tempo de espera por algo que esteja dentro da vontade de Deus nos conduz a um profundo aprendizado espiritual.
A espera como um ato.
Vale ressaltar que esperar é um verbo, logo, uma ação que requer um esforço, porque o resultado final, do que se espera, independe de você. Mas, esperar para um cristão convertido é um esforço para aguardar (dentro de uma vida limitada pelo tempo) a ação final a ser executada por um Deus eterno e ilimitado pelo tempo. A Palavra de Deus é uma fonte valiosa de apoio e encorajamento quando precisamos esperar. “Espere no Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no Senhor” (Sl 27.14).
Aparentemente esperar pode ser confundido com não fazer nada, entretanto a Bíblia nos ensina que a espera é uma poderosa ferramenta de santificação e um momento de grande aprendizado para o cristão. A Palavra de Deus nos dá vários exemplos de pessoas que passaram por períodos de espera e dois deles serão apresentados aqui para nos encorajar e ensinar.
Noé – esperou pouco mais de um ano dentro da arca.
Observe os trechos extraídos do livro de Gênesis capítulos 7 e 8 que relata o período entre Noé entrar na arca até o dia de sua saída:
Então o Senhor disse a Noé: Entre na arca, você e toda a sua família[...] Noé tinha seiscentos anos de idade[...] E a chuva caiu sobre a terra quarenta dias e quarenta noites [...] E as águas prevaleceram sobre a terra cento e cinquenta dias. Então Deus lembrou-se de Noé[...]e as águas começaram a baixar[...] as águas foram baixando pouco a pouco sobre a terra. Ao fim de cento e cinquenta dias, as águas tinham diminuído [...] a arca pousou nas montanhas de Ararate. As águas continuaram a baixar [...] passados quarenta dias Noé abriu a janela que fizera na arca. Esperando que a terra já tivesse aparecido, Noé soltou um corvo, mas este ficou dando voltas. Depois soltou uma pomba para ver se as águas tinham diminuído na superfície da terra. Mas a pomba não encontrou lugar onde pousar os pés porque as águas ainda cobriam toda a superfície da terra [...] Noé esperou mais sete dias e soltou novamente a pomba. Ao entardecer, quando a pomba voltou, trouxe em seu bico uma folha nova de oliveira. Noé então ficou sabendo que as águas tinham diminuído sobre a terra. Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba [...] No primeiro dia do primeiro mês do ano seiscentos e um da vida de Noé, secaram-se as águas na terra. Noé então removeu o teto da arca e viu que a superfície da terra estava seca. No vigésimo sétimo dia do segundo mês, a terra estava completamente seca. Então Deus disse a Noé: saia da arca [...] então Noé saiu da arca [...] Depois Noé construiu um altar dedicado ao Senhor [...] O Senhor sentiu o aroma agradável.” (grifo meu)
            Trata-se de uma descrição detalhada de acontecimentos enquanto Noé foi obrigado a esperar e tem o intuito de nos ensinar sobre o que fazer e o que não fazer durante a espera. Imagine que quando Noé entrou na arca e percebeu a dimensão da destruição ao seu redor, ele provavelmente sentiu um enorme alívio e o imenso cuidado de Deus sobre a vida dele, de sua família e daqueles animais que estavam junto deles. Porém, ele não imaginava o tempo que permaneceria na arca e isso deve ter sido um grande desafio em sua jornada.
No início do capítulo 7, logo após Noé ter finalizado a arca e todos os preparativos para sua navegação, Deus avisa que faria chover sobre a terra por quarenta dias e quarenta noites e um Dilúvio destruiria tudo, exceto a arca e o que nela estava. Notamos que Deus não disse a Noé que as águas prevaleceriam por mais de trezentos dias após os quarenta dias e noites de chuva iniciais. Isso nos mostra que Deus designa o tempo de espera como um exercício de fidelidade e aprendizado.
Deus deixou muito claro e evidente quando Noé deveria entrar e quando deveria sair da arca ( Gn 7.1 e 8.15-16), mas nesse meio tempo Deus estava em silêncio observando as atitudes de Noé. Em contrapartida Noé, que confiava em Deus e em sua soberana providencia e cuidado, agiu dentro de suas possibilidades para tentar descobrir quando a espera na arca terminaria. Notamos que a arca parou em Ararate, mas Noé  esperou quarenta dias para abrir a janela e observar, ele foi cuidadoso e primeiro soltou um corvo e depois uma pomba. Somente, após sete dias Noé soltou a pomba mais uma vez e ela voltou com uma folha nova no bico, um sinal de que as águas estavam baixando. Importante ressaltar que ele usou as técnicas e instrumentos disponíveis e que estavam ao seu alcance durante o período em que aguardava sua saída da arca.
Noé esperou mais sete dias e pela terceira vez soltou a pomba, que não voltou, o que indicava que ela havia encontrado lugar para abrigar-se. Depois de mais um tempo, Noé removeu o teto da arca e viu que a terra estava seca e aguardou o comando de Deus para sair. Vale ressaltar que durante todo esse período Noé tinha muitas responsabilidades dentro da arca e de forma alguma, a vontade de sair e o cansaço da espera o fez menosprezar suas responsabilidades no cuidado e manutenção não só de sua família, mas de uma quantidade enorme de animais diversos que Deus havia preservado do Dilúvio e que estavam junto dele na arca.
A jornada de espera de Noé, nos ensina que enquanto esperamos podemos tentar descobrir quando o resultado final de nossa espera virá acontecer, mas sempre debaixo da orientação de Deus. Noé, mesmo quando viu que a terra estava seca não agiu sem antes ter a certeza de que havia chegado o tempo de sair, porque ele sabia que o mesmo Deus que o havia colocado naquela situação seria o Deus que o haveria de tirar daquele contexto. O fruto dessa jornada difícil culmina num relacionamento de intimidade entre Noé e Deus. No final do capítulo 8 há um relato de que Noé construiu um altar dedicado a Deus, um símbolo de adoração individual. Deus o abençoa e também estende a benção aos filhos dele e a todos os animais que com eles estavam.
A jornada de espera pela qual Noé passou, o levou a depender mais de Deus na certeza de que ele fez o que deveria ser feito e estava debaixo da proteção e boa mão de seu Deus.
Josué – o protagonista da espera.
A vida de Josué foi marcada por períodos intercalados de lutas e esperas. Ele nasceu no Egito, como escravo e foi libertado por Deus junto com o povo de Israel, por intermédio de Moisés. Desde jovem foi escolhido como auxiliar de Moisés (Nm 11.28) e no início de seu trabalho como auxiliar do grande profeta, enfrentou um período de quarenta dias e quarenta noites de espera. Observe os trechos que resumem esse período:
“Disse o Senhor a Moisés: Suba o monte, venha até mim, e fique aqui; e lhe darei as tábuas de pedra com a lei [...] Moisés partiu com Josué, seu auxiliar, e subiu ao monte de Deus (Ex 24. 12-13)[...] Então o Senhor disse a Moisés: Desça, porque o seu povo, que você tirou do Egito, corrompeu-se [...] Então Moisés desceu do monte [...] Quando Josué ouviu o barulho do povo gritando, disse a Moisés: Há barulho de guerra no acampamento (Ex 32. 7, 15 e 17). Passados os quarenta dias e quarenta noites, o Senhor me [Moisés] deu as duas tábuas de pedra, as tábuas da aliança, e me disse: Desça imediatamente (Dt 9.11-12a – grifo meu)”.
Em geral, esse trecho é sempre estudado pela perspectiva de Moisés, mas nesse momento, voltemos nossa atenção para Josué. Note que ele esperou ao pé do monte e assim, permaneceu longe tanto de Moisés que havia subido o monte quanto do acampamento onde o povo de Israel, Arão, irmão de Moisés e os demais líderes do povo, estavam acampados. Embora a Bíblia não revele os detalhes desse tempo de espera, nós podemos imaginar o cenário e lições de vida.
Imagine que Josué, ainda jovem, estava no deserto e sem nenhum aviso de quanto tempo deveria esperar. Creio que somente um servo fiel suportaria essa incógnita com relação ao tempo, confiando na esperança de que um dia o mesmo que o fez esperar seria o mesmo que o faria voltar ao acampamento. Afinal, eles haviam sido libertos da escravidão, no Egito, para conquistarem a terra prometida. Josué conseguiu esperar porque confiava no Deus que o havia livrado de forma espetacular e com sinais miraculosos. Creio também, que ele não poderia conceber a ideia de que pela lógica dos acontecimentos passados ele terminaria sua vida, ainda jovem, morto de tanto esperar aos pés de um monte no deserto.
Ainda mais, esses quarenta dias e noites de espera ao pé do monte, de certa forma se tornou um mecanismo de livramento e ao mesmo tempo um exercício de paciência e perseverança para Josué. Primeiro, porque durante esse período, no acampamento, o povo desmotivado pela espera e demora em relação ao retorno de Moisés, se corrompeu e passou adorar outros deuses. Segundo, para Josué, esse período foi uma prévia da longa jornada de espera pela terra prometida, que no total foram quarenta anos no deserto até que ele pode desfrutar da terra prometida por Deus, ao povo de Israel. As quatro décadas de espera começou com a missão de reconhecimento da terra:
“E o Senhor disse a Moisés: envie alguns homens em missão de reconhecimento à terra de Canaã, terra que dou aos israelitas. [...] Assim Moisés os enviou do deserto de Parã [...] da tribo de Efraim, Oseias,[...] A Oseias, filho de Num, Moisés deu o nome de Josué [...] ao fim de quarenta dias eles voltaram da missão de reconhecimento daquela terra [...] De todos os que foram observar a terra, somente Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, sobreviveram [...] durante quarenta anos vocês sofrerão [...] cada ano corresponderá a cada um dos quarenta dias em que vocês observaram a terra”(trecho extraído de Nm 13.1-25; 14.30 e 34 – grifo meu).
A espera e sofrimento no deserto, durante quarenta anos, não foi pelo pecado e rebeldia de Josué, aliás foi justamente o contrário, ele sofreu por consequência do pecado de outros (povo de Israel) que pecaram por não confiar em Deus e ter medo de lutar e conquistar a terra prometida. As quatro décadas de espera serviram como memorial e testemunho da bondade e fidelidade de Deus a todo aquele cuja confiança está no Senhor. Em meio as lutas desse período o relacionamento entre Josué e Deus cresceu e culminou numa das declarações mais encorajadoras de toda a Bíblia e é com ela que gostaria de encerrar e encorajá-lo a permanecer fiel, a Deus, durante a sua longa jornada de espera:
“Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: [...] Ninguém conseguirá resistir a você todos os dias da sua vida. Assim como estive com Moisés, estarei com você; nunca o deixarei, nunca o abandonarei. Seja forte e corajoso, porque você conduzirá este povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados. Somente seja forte e muito corajoso! Tenha o cuidado de obedecer a toda lei que o meu servo Moisés ordenou a você; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem-sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido. Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar (trecho extraído de Js 1. 1-9 – grifo meu)”.
Que a nossa espera culmine num testemunho que glorifique a Deus!

Bianca Bonassi Ribeiro



Bianca é casada com Luciano. Eles têm dois filhos, o Pedro e o Vitor. Ela faz parte da equipe docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP, desde 2007 e é membro da Primeira Igreja Batista de Atibaia.
Bianca é doutora em Comunicação e Semiótica, mestre em Administração e graduada em Administração de Empresas.


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